Sim, detalhes técnicos são importantes em videogames

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No mundo dos fãs de videogames, existem muitas pessoas que se importam bastante com detalhes gráficos e resolução.

Muitas vezes, esse grupo é taxado de obsessivo, quase raivoso sobre seu hobby, a ponto de apenas alguns Tweets vagos ou rumores darem início a um escândalo. Pegue o ResolutionGate, a dramática polêmica que surgiu em outubro do ano passado porque alguns jogos tinham uma resolução maior em um dos dois novos consoles que estavam para ser lançados, o Xbox One e o PlayStation 4.

Essa controvérsia deixou alguns observadores coçando a cabeça, e aparentemente esses observadores ainda não entenderam direito a história toda. Em uma coluna na Motherboard nesta semana, o escritor Yannick LeJacq argumenta que esse tipo de debate e discussão, tanto em fóruns como em sites de games como o Kotaku, estão prejudicando a indústria dos videogames como cultura e forma de arte.

Se queremos entender os videogames como algo fundamental à cultura pop, nós temos que questionar se esses detalhes são ou não são importantes”, escreve LeJacq. “O Pitchfork (site de música independente) gasta todo o seu tempo para discutir a arte da música e não detalhes técnicos dos sistemas de som e fones de ouvido. O The New Yorker e o New York Magazine só mencionam especificações de tela e tecnologia 3D em filmes quando essas tecnologias podem realmente dizer alguma coisa interessante sobre a autoria de um filme. Bons críticos falam sobre a obra em si, em primeiro lugar”, completa.

LeJacq continua seu texto pedindo que jornalistas de games falem mais sobre questões maiores da indústria, como “por que as pessoas são obcecadas pelo corpo de Lara Croft?”, no lugar de debater questões mais técnicas como resolução e frame-rate. Ele não chega a falar muito sobre a acusação no título de seu texto (“Obsessões como ‘ResolutionGate’ são o motivo de os games não serem respeitados na cultura pop“), mas sua ideia é clara: debates sobre detalhes técnicos estão ofuscando os jogos como arte.

Mas resolução é importante. Frame-rate faz diferença. Pequenos detalhes técnicos devem ser discutidos. Vou explicar aqui os motivos.



1 – A diferença gráfica não é insignificante

Veja o GIF abaixo:




A imagem acima, poduzida pela NeoGAF, mostra uma diferença bem clara entre as versões de Xbox One e PS4 de Assassin’s Creed IV. Você pode não perceber ou se importar com o filtro que faz a versão para Xbox ficar mais escura, e se você joga apenas em um console, as diferenças gráficas não vão ter importância. Mas as diferenças existem e nós não podemos fingir que elas não estão lá.

A diferença não é pouca, como você pode ver. A versão para PlayStation 4 é claramente mais nítida. “A vantagem de resolução do PS4 causa uma considerável melhora na qualidade da imagem”, afirma o site Digital Foundry. O site também indica que a versão para o console da Sony tem mais lag do que a versão do jogo para Xbox One.

Dizer que essas diferenças não importam para você é perfeitamente ok. Elas não são tão importantes pra mim também. Jogo de guerra cheio de fumaça é jogo de guerra cheio de fumaça, não importa a resolução. Mas é irresponsável para um jornalista dizer que isso não deveria importar para ninguém.

E os frame-rates? Atualmente, jogadores de todas as plataformas estão discutindo sobre a próxima versão de Tomb Raider, com lançamento marcado para a próxima semana, que supostamente vai rodar a 60 fps no PlayStation 4. Ainda não se sabe como o jogo vai rodar no Xbox One. “Lançar o Tomb Raider a uma resolução de 1080p rodando a 30fps foi sempre o nosso primeiro objetivo. Qualquer coisa acima disso ainda é incerto”, afirma um representante da Square Enix.

LeJacq afirma que nada disso importa.

O frame-rate afeta a experiência do jogo de maneira limitada e é apenas aparente se você estiver buscando por isso. Ou se alguma coisa dá errado, como quando um jogo fica muito lento de uma hora para outra”, afirma LeJacq. “Assim como resolução de tela, esse é o tipo de coisa que agrada principalmente o pessoal mais técnico”.

Qualquer vídeo de YouTube roda no máximo a 30fps, então é difícil comparar o frame-rate dos jogos online. Mas temos sorte pela existência de sites que foram criados com a proposta de mostrar como a animação fica muito mais suave a 60fps. Se você não vê diferença alguma, tente passar um tempo jogando The Legend of Zelda: A Link Between Worlds, um game aclamado por ser um dos mais suaves na história. O jogo da Nintendo roda 60 frames por segundo, ao contrário da maioria de seus concorrentes.

Independentemente disso, assim como a resolução, o frame rate é um detalhe técnico que faze a diferença para um grande grupo de pessoas, e isso não é algo que os jornalistas devem ignorar.

2 – Dissecação técnica e análise crítica não são mutuamente exclusivas

“A escolha de publicar continuamente histórias sobre frame rates e resolução tiram a energia e o tempo de outras histórias mais humanas”, escreve LeJacq.

O problema é que isso não acontece. Grandes jogos de games como o Kotaku ou a IGN publicam centenas de histórias por semana. Os textos são escritos por uma equipe fixa de jornalistas e também por freelancers. Nós temos repórteres e temos críticos. Temos tempo e energia. E somos capazes de falar sobre as questões técnicas e críticas sem queimar os fusíveis.

Em outubro, o jornalista do Kotaku Kirk Hamilton gastou algumas horas comparando jogos como Call of Duty: Ghosts e Battlefield 4. Ele chegou à conclusão que sim, há uma visível diferença na performance de cada game no PS4 e no Xbox One.

Isso não fez com que Kirk não tivesse como escrever uma análise inteligente sobre Assassin’s Creed IV, que faz alguns questionamentos interessantes sobre o que a série é e para onde está caminhando. Também não impediu Kirk de criticar algumas das “escolhas” em games que não passam de ilusão e manipulação. Tudo isso na mesma semana!

3 – As pessoas merecem saber mais sobre o que estão pagando

E aqui vai o maior argumento. Quando falamos sobre resolução e frame-rates, nós realmente estamos questionando duas coisas: “Esse jogo está se comportando como o esperado?” e “Este console está funcionando como o esperado?”.

Videogames, mais do que qualquer outra forma de arte, são muitas vezes percebidos como produtos. Isso acontece por conta do ciclo de marketing da indústria, mas também porque os jogos muitas vezes simplesmente não funcionam. Nós nos acostumamos a aceitar bugs, glitches e lentidões estranhas. Esses problemas ficaram tão enraizados na cultura como o pulo do Mario.

LeJacq, em seu artigo, menciona que as críticas de filmes ou música não falam sobre detalhes técnicos, mas a comparação é injusta. Quantas vezes um filme deu pau e te forçou a assistir a última hora novamente? Com que frequência um disco sofre de lag em momentos aleatórios da reprodução?

A tecnologia dos jogos está evoluindo em ritmo exponencial, e os videogames ainda não estão no ponto em que nós podemos ignorar seus componentes técnicos. Cada jogo tem uma performance diferente. Como você poderia criticar SimCity sem falar sobre os problemas com servidores que fizeram o game ficar indisponível por mais de uma semana depois do lançamento? Como falar sobre Fallout: New Vegas sem mencionar os glitches frequentes e os bugs do jogo?

Consequentemente, quando alguém quer saber se vai comprar um Xbox One ou PlayStation 4, ela merece saber tudo sobre o console: a resolução, o frame-rate, cada detalhe que faz com que essas máquinas rodem os jogos. Se os jornalistas ignoram os detalhes técnicos, estamos fazendo um desserviço para as pessoas que gastam uma grande quantidade de dinheiro nos jogos e no hardware.

Se um jogo tem mais resolução em um console do que tem em outro, isso não merece ser discutido? As pessoas que estão pensando sobre as capacidades desses consoles não merecem saber do que eles são capazes? É tentador afirmar que as comunidades em sites como Reddit e NeoGAF são uma minoria obsessiva preocupada com nada mais do que uma absurda guerra de consoles, mas essas questões fazem a diferença.

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