Naruto: fim de uma era, começo de um legado
Ao longo de sua carreira, o título acumulou vários recordes. É o anime mais lucrativo da TV Tokyo, superando até Pokémon. Conta com quase 140 milhões de cópias vendidas somente no Japão; na França, dados do ano passado falam em 13 milhões de exemplares vendidos. No mesmo ano a revista License! Global o nomeou como 140ª marca com mais licenças no mundo pela Viz Media. Somente até 2008, 90 países já tinham direitos de exibição da série de TV e 23 do mangá. Não é pra qualquer um.
Por muito tempo o título esteve no topo da Shonen Jump semanal como o mais vendido, mas após seu volume 31 é que começou a distribuir mais de um milhão de cópias e entrou em definitivo para a pequena lista dos que conseguiram esse feito. O anime, produzido pelo falado estúdio Pierrot, conquistou os quatro cantos do globo sendo exibido em mais de 100 países, fato que fez o mangá ir de norte a sul do planeta. No entanto, como popularidade não mensura qualidade, é importante falar da obra em si.
Certa vez, um monstro raposa de nove caudas apareceu. O poder de suas caudas era capaz de destruir montanhas e causar os mais terríveis tsunamis! Para combater tal ameaça, as pessoas chamaram os shinobis. Um deles sacrificou sua vida para derrotar e selar o temível monstro… Este homem foi chamado de quarto hokage.
Em Naruto somos apresentados ao costumeiro universo ninja tão admirado e abordado em obras japonesas. Conhecemos, logo de cara, o nosso protagonista e ninja hiperativo número 1 de Konoha, vila da folha.
Naruto Uzumaki é um garoto que tem um sonho: se tornar hokage. Problemático, usa todas as ferramentas ao seu alcance para chamar atenção de seus superiores e mostrar o quão incrível ele é! Além de causar problemas, ele adora lamen e isso é uma informação importante. Entretanto, na verdade, é só um garoto atrapalhado que reprovou duas vezes na tentativa de se tornar um ninja. Além disso, Naruto é odiado por imensa parte da vila por ser o recipiente do monstro que quase destruiu o vilarejo anos atrás, isso o torna um tanto solitário. E essa solidão o aproxima de seu melhor amigo e rival.
“Sasuke: O cara mais popular da sala… Sempre se achando… Eu odeio esse idiota mais que qualquer um!”
Sasuke Uchiha é apresentado, inicialmente, como o popular garoto sombrio. A princípio, ele é o tipo de cara que você realmente odiaria de ter por perto. Com tudo, ao passar do tempo, torna-se um dos personagens mais interessantes e importantes da história. Assim como Naruto, o Uchiha não tem pais, mas sua forma de lidar com isso foi totalmente oposta ao do colega (e concorrente) de time: Ódio e vingança. “Meu nome é Sasuke Uchiha. Há bastante coisa que eu não gosto e poucas que gosto. E o que tenho não é um sonho, mas sim uma ambição. Ressuscitar o meu clã e… destruir um certo homem.”
Entre os dois, está Sakura Haruno, a kunoichi da equipe. Nos capítulos iniciais, Sakura demonstra-se apenas interessada em Sasuke e pouco de sua história é realmente explorada. Os pontos de destaque dela são sua inteligência e senso de responsabilidade com a equipe, que acabou sendo essencial em alguns pontos da primeira fase do enredo. Pode-se dizer que de primeiro momento ela é a componente feminina na mistura típica de um mangá para garotos.
Ainda se destacam outros personagens importantes para o enredo, como Kakashi Hatake que apesar de ser um professor preguiçoso é também um jounin habilidoso portador de um passado um tanto perturbador que apenas com o aprofundamento da história começamos a entender melhor. Toda a história é conduzida nas mãos de Masashi Kishimoto que, de fininho (e contra a vontade), apresentou uma forma diferente de ver o mundo ninja. Desenvolveu uma receita única que fez de sua criação uma das mais importantes obras do gênero da história. E aqui pego o gancho pra falar de alguns pontos incisivos no sucesso de Naruto e na beleza de seu enredo.
Apesar de termos um mundo em guerra, sombrio e cheio de ódio, encontramos personagens inteiramente humanos, por assim dizer. Muitas vezes vemos os ninjas mais velhos dando lição de moral sobre o que é ser um shinobi de verdade e poucas vezes essas lições trazem humanidade. Entretanto, não são raros os momentos que vemos um ou outro chorando, se arrependendo de alguma coisa e voltando atrás de decisões (coisas que acontecem até com os vilões mais frios). Talvez essa seja a característica que mais aproximou Naruto de seus leitores: A contradição. Engraçado que esse também é o ponto em que Naruto é mais criticado, principalmente pelas atitudes de Sasuke Uchiha. No entanto, isso é o que aproxima o universo de Kishimoto do nosso. Nós mudamos de opinião sobre as coisas, temos arrependimentos e fraquezas. Os ninjas também. Claro que existem as chamadas pontas soltas que acabam se resolvendo de um jeito tão simplista que receberam o carinhoso apelido de “Kishimoto no jutsu”, mas eu sou do time que defende que tudo que aconteceu estava nos planos dele desde o início e se analisados com cuidado, os capítulos iniciais e finais provam isso. A verdade é que é quase impossível um enredo tão detalhado e que se segue há tantos anos não deixar passar algo.
Mas enfim, por que Naruto deixará saudades?
É normal que depois de anos acompanhando alguma coisa ela se torne especial para você, mesmo que seja algo banal aos olhos de muitas pessoas. Singularmente ela tem um valor. E é assim com Naruto.
Eu sentirei falta, principalmente, da fase clássica. O clima entre o time sete passava-me uma sensação de uma aventura que eu nunca vivi, mas sempre tive a vontade de enfrentar. Um clima de companheirismo mútuo e de dedicação grupal que pouco se vê hoje em dia. A rivalidade de Sasuke e Naruto era como aquele amigo que disputa a melhor nota com você na pré-escola, ou qualquer outro rival que não conseguia odiar. Tudo isso, realmente, trazia-me um clima nostálgico e familiar. Irei lamentar não acompanhar mais as batalhas sentimentalistas que, até então, não costumava ver com frequência em outros títulos do mesmo segmento.
Quem há de esquecer-se da luta na ponte Naruto, os primeiros inimigos de nosso grupo de ninja? A força de vontade do Haku em servir ao seu “salvador”, a ganância de um homem. Eu nunca tinha visto algo tão intenso. Tanta força sentimental e dramática foi a chave para tornar-me, de fato, um fã da história. E essa sensação continuou. A batalha contra Orochimaru, onde somos apresentados a um dos vilões mais completos e bem bolados de todo enredo. O exame chunnin está repleto de momentos inesquecíveis, pois é a partir dessa fase que Naruto realmente começa. Uma série de acontecimentos repentinos implode, finalmente, na batalha do vale do fim.
E pergunto de novo: Quem há de esquecer a batalha no vale do fim? Talvez seja esse o evento mais importante de toda história do mangá Naruto. A partir dali, a narrativa se modificou, os personagens amadureceram abruptamente (alguns mais que outros) e passamos a acompanhar de perto a evolução dos times principais. A fase Shipppuuden (apenas no anime é chamada assim) deixará saudade pela evolução dos conflitos e os novos personagens apresentados. É aqui que finalmente conhecemos o grupo terrorista denominado Akatsuki, onde estão inclusos personagens muito importantes para a história principal, como Itachi Uchiha, irmão de Sasuke, que assassinou toda a família, deixando o peso restante desse ato para o mais novo. O acerto de contas acontece durante essa fase, marcando assim uma das batalhas mais épicas de toda a série.
Sentirei saudades dos “hum” de Deidara, dos tragos do Asuma (e do filho dele e Kurenai que, se tivermos sorte, aparecerá novamente no último capítulo) e dos Livros de Jiraiya que Kakashi tanto amava. E o que dizer das loucuras de Gai e Rock Lee? Personagens que começaram com características banais, mas que logo caíram no nosso gosto tornando-se essenciais para diversos momentos.
Além de tudo isso, Naruto deixará saudades por que poucas vezes um título conseguiu unir tantas pessoas em torno de si. Ele foi o primeiro a abocanhar tanta popularidade em plena era digital (acumulando recordes e mais recordes de downloads ilegais). Raros são os animes que conseguiram render discussões acaloradas e sacrifícios para acompanhar de alguma forma. Quantos converteram tantos fãs e inúmeros depreciadores?
Naruto tem o seu legado e cegos são os que negam isto. Para os amantes, um título incomparável; para os demais, um que merece respeito. E que venha as emoções dos capítulos finais, porque de uma forma ou de outra, valeu a pena, dattebayo!
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