Texto-Análise: Logan

0 comentários
A sinopse do Logan que saiu em 02 de Março no Brasil, conta uma história que em 2024, os mutantes estão em declínio e as pessoas não sabem o motivo. Uma organização está transformando as crianças mutantes em assassinas e Wolverine, a pedido do Professor Xavier, precisa proteger a jovem e poderosa Laura Kinney, conhecida como X-23, no qual acredita ser sua filha.

E a texto-análise que faremos a seguir contará com spoilers do filme.

O filme conta com cerca de duas horas e vinte e um minutos de duração e mostra uma excelente história sobre o surgimento da X-23, Laura Kinney que é atuada pela atriz Dafne Keen, interpreta a personagem com uma certa facilidade extraordinária em questão de não se adequar aos ambientes naturais, assim como suas técnicas de luta e formas agressivas que ela demonstra durante o filme. A X-23 fez parte de um projeto que utilizava crianças afim de desenvolver soldados para a corporação, soldados pelos quais tinham poderes sobre-humanos e eram treinados a obedecerem a ordens da empresa contra suas vontades, no entanto, as crianças ficaram revoltadas e o controle estava difícil de se manter, até que uma enfermeira do local ajuda na fuga das crianças e foge com a Laura em busca de Wolverine.

O longa metragem baseado nas histórias em quadrinhos "Velho Logan" de Mark Miller e Steve McNiven, demonstra cenas de violência brutais, com direitos a membros decepados e cabeças rolando. É um excelente filme de fato, já que desenvolve uma trama emocionante durante todo o filme entre Wolverine, X-23 e Charles Xavier, sendo Charles um velho debilitado que sofre de convulsões que devido a seus poderes acaba afetando todos ao seu redor, temos Wolverine de saco cheio da vida e velho cujo único objetivo era aguardar a morte chegar e temos a Laura, conhecido pelos demais como X-23, uma criança que está atrás do Ether, um local em que as outras crianças estão, pelo qual posteriormente, Logan descobre ser apenas coordenadas escritas em uma página da história em quadrinhos de X-Men e se recusa a aceitar que realmente existem crianças naquele lugar.

E mais de uma vez ao longo de sua duração Logan faz referências (inclusive o exibe na televisão em uma cena) ao clássico western Os Brutos Também Amam (1953). Um filme que, de certa forma, fala sobre como a violência, independente para qual fim seja usada, acaba também afetando aquele que a comete. A jornada do Wolverine no filme é exatamente essa, um homem que levou uma vida de violência e vive solitário, afastado do mundo, lamentando tudo o que foi, tudo o que fez e imaginando se algum dia encontrará paz.

Hugh Jackman é preciso ao construir Logan como um homem assombrado pelas coisas que fez e não suporta mais a própria existência nem vê nela um propósito além de cuidar de Xavier e manter seus poderes sob controle. O filme entende que alguém com uma vida tão longeva e marcada por trauma e violência não tem como levar uma vida como a das demais pessoas, ele está danificado demais. A novata Dafne Keen se sai muito bem ao convocar a selvageria nata de Laura, alguém que não tem a menor ideia de como o mundo funciona e pouco conhece além de violência. Mesmo sem falar nada durante boa parte do filme, a garota consegue dizer muito com seu olhar e linguagem corporal e é possível perceber que por trás de sua conduta bruta, ela é em essência uma garotinha solitária em busca de afeto e conexão humana.

O diretor James Mangold, que também dirigiu Wolverine: Imortal (2013), conduz tudo de uma maneira mais contida do que a maioria dos filmes de super-herói, sendo mais próximo de uma família que tenta se conectar. Mangold vai aos poucos exibindo a aproximação de Logan e a garota e como ele vê muito de si nela. Se no início ela lhe parece um estorvo, conforme a trama a avança ela se torna sua redenção, a chance de deixar algo melhor para o mundo e de impedir que alguém parecida com ele siga pelo caminho que lhe trouxe somente dor e arrependimento.

Algumas das pessoas com quem Logan se encontra no meio da estrada aparecem de maneira muito conveniente para a trama, sempre surgindo alguém no meio do caminho que por coincidência tem a oferecer exatamente o que os personagens precisam para desenvolverem suas relações. Um exemplo é a família de fazendeiros, que não tem outro propósito além de oferecer ao protagonista o vislumbre de uma “vida normal” ao mesmo tempo que nos lembra os motivos disso não estar ao seu alcance. Não chega, no entanto, a ser um grande problema, visto que há um senso real de progressão e aprendizado por parte dos personagens e os eventos de fato reverberam neles ao longo do filme.

Como este é um filme sobre duas pessoas com garras afiadas e sobre as marcas da violência, evidentemente que os personagens não ficam apenas na conversa. Mangold aproveita bem a alta classificação indicativa e não se furta a exibir todo o sangue e mutilação que aconteceriam se alguém como o Wolverine ou outros mutantes realmente existissem. Os embates dele e a Laura contra os mercenários nos fazem sentir o peso e a violência de cada golpe de uma maneira que nenhum outro longa-metragem do personagem conseguiu. Ao fim, Logan é uma despedida bastante digna para o personagem. Cheia de fúria e emoção, a trama entende muito bem quem ele é e o que o move, criando um desfecho poderoso que provavelmente vai levar muitas pessoas às lágrimas.

0 comentários: