Texto-Análise: Guardiões da Galáxia Vol.2

0 comentários

O que dizer sobre Guardiões da Galáxia? É essa a pergunta que se faz depois de sair de uma sala de cinema. Em resumo, Os Guardiões precisam lutar para manter sua recém descoberta família unida, enquanto descobrem os mistérios sobre o verdadeiro pai de Peter Quill. Antigos inimigos se tornam aliados e personagens conhecidos e amados dos quadrinhos virão ao auxílio dos heróis. A história surpreendente de Guardiões mostra muito mais do que aquilo que gostaríamos de ter visto. O filme conta com cerca de cinco cenas pós-créditos, muito humor e easter eggs por todo o canto.

A análise a seguir, conterá spoilers do filme.

Desde Howard, o Pato até as aparições de Stan Lee, isso mesmo, aparições, pois ele surge duas vezes. Guardiões da Galáxia Vol.2 é um filme que além de contar um pouco da história de Peter Quill, eles embarcam em uma aventura divertida para a família, o que fica bem interessante já que o filme é moldado de uma certa maneira que até os leigos se divirtam e entendam um pouco sobre o que está acontecendo. A história inicialmente é focada no desentendimento de Rocket Raccon e Peter Quill depois de terem sofrido um acidente com a nave deles e se não fosse pelo Ego, pai de Peter encontrá-lo, eles morreriam antes mesmo de terem usado o "Salto no Espaço" para qualquer lugar longe da encrenca que arrumaram.

A preocupação de James Gunn na sequência é apenas desenvolver seus personagens, sem conexões grandiosas com os eventos que levarão à Guerra Infinita. O objetivo é conhecer melhor a família formada no primeiro longa enquanto brinca com novas possibilidades dentro do Universo Cósmico. Tudo permeado pelo senso de humor peculiar do diretor/roteirista. Uma assinatura que mistura cor, trash, sentimentalismo e besteirol frenético. Assim como no primeiro filme, cada ato tem sua consequência, movimenta a trama e adiciona camadas aos personagens.

O mesmo vale para o visual de personagens, cenários e objetos de cena. O trono dourado de Ayesha, alta sacerdotisa dos engenheiros genéticos Sovereign, se mistura à sua vestimenta como prova da sua superioridade e realeza infinita. As linhas da nave de Ego, o Planeta Vivo, evocam Flash Gordon e Barbarella para situar o personagem como um ser de outros tempos. O traço geral é caricato e de cores gritantes, como se fosse transferido diretamente de um gibi impresso nas décadas de 60 e 70. A sensação é de virar a página a cada nova cena e desfrutar-se da incrível playlist de "Awesome Mix Vol.2" de Peter Quill.

O acerto na escolha do elenco que habita esse universo é a cola que faz de Guardiões da Galáxia uma peça diferente no quebra-cabeça do Marvel Studios. O time veterano - Chris Pratt (Peter Quill/Senhor das Estrelas), Zoe Saldana (Gamora), Dave Bautista (Drax), Karen Gillan (Nebula), Michael Rooker (Yondu) e os dubladores Bradley Cooper (Rocket) e Vin Diesel (Groot) - retorna integrado e sincronizado, seja na ação, no humor ou no drama. Os novatos, porém, são os responsáveis pelas doses de surpresa do filme. Kurt Russell facilmente coloca Ego na sua galeria de personagens marcantes, enquanto a franco-canadense Pom Klementieff faz uma estreia certeira como Mantis, aproveitando cada interação com Drax (menos destruidor, mais piadista). Elizabeth Debicki apodera-se de todos os minutos em tela como a fria Ayesha, enquanto Stan Lee faz uma de suas melhores participações especiais e Sylvester Stallone (Stakar Ogord) entra para o Universo Marvel como se já estivesse lá há anos.

Já a história é iniciada por causa da atitude de um dos guardiões, a Soberana ataca a nave deles com inúmeros drones, quando surge a figura de Ego (Kurt Russell), o pai de Quill, acompanhado de Mantis (Pom Klementieff). Enquanto isso, Ayesha contrata Yondu Udonta (Michael Rooker), o pai adotivo de Quill, para perseguir os Guardiões. É neste momento que Gunn desvia do humor habitual do primeiro, apesar de manter a trilha sonora, para mostrar algumas das cenas mais fortes do universo Marvel. Ao contrário do primeiro filme, Guardiões da galáxia Vol. 2 tem uma tentativa de abordar uma relação significativa entre o que seria a origem de Quill e a amizade com seus companheiros. Se no primeiro a ligação era com a mãe, desta vez é com o pai, e Kurt Russell entrega um personagem ambíguo na medida certa. O humor, usado em larga escala no primeiro, está presente, mas de maneira mais contida, principalmente por meio do Groot, a melhor participação da narrativa. É possível vislumbrar uma centelha mais dramática em Chris Pratt, assim como em Michael Rooker, embora Zoe Saldana novamente não ganhe o espaço necessário.

Como no primeiro, há um padrão interessante de humor despertado por Gunn por meio de seus personagens, com um ritmo quase de animação mas sem se perder na caricatura e sim inserindo os personagens numa ação quase sempre surpreendente – no comportamento do Groot, por exemplo, quando ele precisa ativar uma bomba, embora seus olhos digam o contrário sobre essa atitude extrema diante de uma ameaça. Não apenas por meio de Quill, é visível que Gunn tenta inserir um caráter mais dramático na sua narrativa, principalmente nas expressões de Rocket e do Groot sendo, em determinado momento, colocado numa situação complicada, ou de Gamora e Nebula, sempre inseridas num conflito não solucionado. Há, inclusive, diálogos com uma conotação mais adulta do que o primeiro, de Drax e Quill em relação a Mantis. A mescla resulta interessante não apenas pela interação de elenco, como pelos bons diálogos de Gunn.

Além disso, ainda mais do que o primeiro, a direção de arte de Guardiões da galáxia Vol. 2 é um triunfo, até mesmo de simplicidade, com o design das naves feitos com uma mistura entre CGI e uma estranha coloração humana, aqui se destacando o amarelo fabuloso da raça dos Soberanos. E uma influência visível do Flash Gordon oitentista produzido por Dino de Laurentiis, mas, ainda mais, um cuidado visível com a ambientação fantástica, auxiliada pela fotografia de Henry Braham (A lenda de Tarzan).

O planeta em que a nave dos guardiões cai evoca também Endor de O retorno de Jedi e Pandora de Avatar, e Gunn desenha uma sequência ultraviolenta de maneira sintética apenas com o uso da trilha sonora. Percebe-se o cuidado que o diretor possui em relação aos cenários e à maneira como seus personagens interagem com eles. Como no primeiro, há uma certa profusão de CGI e uma competência técnica que às vezes se sobressai à emoção, mas ainda assim o salto do primeiro para o último ato é interessante.

Se o primeiro lidava com o conhecimento entre si dessa equipe, Gunn parece tentar neste segundo o conhecimento do que leva cada um a se sentir feliz junto uns dos outros. Isso não ocorre sem uma certa amargura e um punhado de decepção no que se refere ao passado. Isso é o que torna este segundo mais diferente do primeiro: mesmo sua trilha sonora mais desconhecida, embora muito boa, contribui para um afastamento do apelo mais pop do original, em que passos de dança podiam significar também um duelo para salvar o universo. Os personagens parecem estar em busca de uma explicação para o que mesmo fazem, e esta explicação pode estar dentro deles mesmos. Aparentemente, esta abordagem poderia ser melhor explorada em alguns momentos, mas mesmo assim se sobressem aqueles mais íntimos da trama, quase ausentes no original. Isso torna Guardiões da galáxia Vol. 2 surpreendentemente emotivo.

0 comentários: