Será que estamos ficando cansados dos shooters em primeira pessoa?

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É engraçado. Quando falamos de videogames e gêneros, nós costumamos pensar em termos quase permanentes, que nunca surgem novos. Pensamos que eles são rígidos e imóveis, como uma pedra no Stonehenge, mas essa ideia está errada. A verdade é que o conceito de gênero é maleável e o sucesso de um sobre o outro nada mais é que um reflexo do mercado e de seus consumidores. É isso que as pessoas estão comprando agora, dizem os publicadores e criadores. Então estes são os jogos que vamos fazer e ponto final.

Eis um ponto importante nessa história: até a década de 90, nós não tínhamos saída, literalmente. Existiam basicamente dois tipos de jogos: os de plataforma e as cópias de Street Fighter. É claro que tivemos alguns RPGs japoneses, como os nosso queridos Zeldas, e alguns outros tipos menores, mas a maioria deles era completamente dominada pelos dois gêneros. O interessante é que naquela época já havia a discussão de como os jogos eram todos clones e como eles reprimiam a criatividade. “Os jogos de antigamente eram muito melhores, tinham mais variedade e blá, blá, blá”. Isso nada mais é que um monte de besteira, do mesmo modo que hoje é uma besteira. Os jogos, filmes e outros tipos de mídia estão repetindo o mesmo velho formato desde que os chineses inventaram o papel.

Mas sempre existe um ponto de virada, o ponto em que o tédio dos jogadores é expandido e atinge o mercado. No fim da década de 90, os jogos de luta deixaram de vender na mesma quantidade de antes, as pessoas não queriam mais pular e nem apertar botões freneticamente para socar e chutar uns aos outros. As pessoas queriam algo diferente.




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E eu me pergunto: estamos atualmente em um momento semelhante? Estamos todos ficando cansados de atirar em cabeças?

Eu pergunto isso no sentido mais amplo. Tenho certeza que existem muitas pessoas que adoram os jogos de tiro em primeira pessoa, ou gostam de uma determinada série. Mas falando no geral, o público de games está cansando de jogos de tiro? O mercado está saturado? Estamos na transição para algo um pouco diferente?

Não se engane, esse tipo de coisa acontece. Eu nunca fui confiante o suficiente para dizer que os jogos de plataforma e de luta morreram, mas os os dois gêneros com certeza se deterioraram até o ponto em que estão hoje. Tudo isso começou com a mesmice, com a saturação e com o tédio.

Esses movimentos começam dos jogadores mais ávidos e vão se proliferando aos jogadores mais casuais. Eu me lembro especificamente do ponto em que eu comecei a mudar. Eu estava em uma sala escura na E3, não consigo me lembrar o ano, talvez 2011. Provavelmente já era a 14ª demonstração de shooters em primeira pessoa que eu assistia nas últimas 36 horas. Eu estava com jet lag, cansado e entendiado.

Comecei a me perguntar por quanto tempo eu poderia ouvir as pessoas dizendo que seus jogos eram únicos enquanto eu sabia que, apesar de uma diferença aqui ou ali, aquele nada mais era que mais um jogo com exatamente a mesma mecânica dos outros: mirar o cursor nas coisas em um mundo virtual e puxar o gatilho.

As dezenas de jogos que vi naquela E3 já foram lançados e a maioria já desapareceu. As pessoas os compraram, jogaram, mas e agora? O mal estar está crescendo. Titanfall, provavelmente um dos exemplos mais inovadores do gênero em anos, também chegou e se foi. As vendas foram boas, quem sabe espetaculares. Mas, em termos de discussão, parece que mais e mais pessoas estão interessadas em falar de Dark Souls II, por exemplo.

Destiny é um jogo em que a Activision investiu US$ 500 milhões. Um novo trailer dele foi lançado, mas qual é a opinião geral sobre ele nos sites e fóruns que frequento? Um desapontamento vago e oco. Uma sensação de que o jogo pode não ser tudo aquilo.

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Call of Duty é uma série de jogos que fez sucesso durante anos, mas que parece estar saturada. As vendas estão caindo, mesmo que lentamente. O entusiasmo pelas próximas gerações parece, ao menos para mim, mais fraco que há alguns anos.

Halo é uma série em declínio, que rapidamente está perdendo relevância. O quanto estamos empolgados com um novo jogo da série? Um pouco? Houve um tempo em que a animação poderia derreter um pedaço da lua, mas agora parece apenas mais um jogo. Só mais um shooter.

Parece que os gamers, como consumidores, então cansados de atirar nas coisas. Em breve eles ficarão cautelosos em pagar por isso. Tudo está muito familiar, muito desgastado. Nós precisamos de um novo verbo para curtir. Antes nós pulávamos, socávamos e as vezes chutávamos as coisas. Agora, nós atiramos. Mas estamos fazendo isso há tempo demais. Qual será esse novo verbo?

Se eu tivesse que dar um palpite, eu diria “explorar”. Nós pensaremos em novos lugares para simplesmente estar, e a realidade virtual pode fazer parte disso. Eu acho que mundos misteriosos como o de No Man’s Sky farão parte disso. Acho que o impulso e o sentimento de estar imerso nesses universos começará a ser prioridade. Eu enxerguei isso em Dark Souls, no mundo de Mass Effect e espero que também em Destiny.

Eu acho que quero atirar menos e explorar mais.

Fonte: Kotaku

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