O quanto que as histórias em quadrinhos podem nos influenciar?

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As histórias em quadrinhos sempre foram ferramentas de propaganda ideológica, inclusive tanto na Segunda Guerra quanto na Guerra Fria. Mas e agora, as HQs ainda têm o poder de influência que tinham antes? Elas ainda podem nos ajudar a formar uma sociedade melhor?

Algumas teorias da comunicação defendem que as massas são facilmente suscetíveis a influências externas, mas isto não é segredo para ninguém. Mas e as influências que não são tão óbvias? Não estou falando apenas de mensagens subliminares, mas existem outros meios além da TV de propagar ideias e influenciar comportamento.

E por algum tempo, um destes meios foi a história em quadrinhos. Não só como propaganda ideológica, mas também como meio de mostrar à sociedade realidades que ela muitas vezes não enxerga ou não quer enxergar. E às vezes, esta influência faz bastante efeito, pois as histórias em quadrinhos sempre descreveram a realidade social, psicológica e política, transmitindo ao leitor conceitos, modos de vida, visões do mundo, etc. Logo depois que os quadrinhos ganharam força no imaginário mundial (mas principalmente no norte americano) nos anos 30 com a quebra da bolsa em 29, eles começaram a realmente ser usados como propaganda ideológica. Ora, esta propaganda estava em todo lugar na época da 2ª Guerra Mundial, usando cartazes, filmes, desenhos, então porque não nos quadrinhos?

Era um ótimo jeito de também alcançar os jovens da época e convencê-los a participar do esforço de guerra, além de levantar a moral dos soldados que estavam no fronte de batalha. E o preço baixo dos quadrinhos americanos em outros países aliado ao fortalecimento econômico dos EUA permitiu isso. Foi nesta época que a função ideológica das HQs teve o seu auge. Como a maioria destas histórias, estas mostravam os arquétipos de heróis versus os vilões, que é uma ferramenta universal para praticamente qualquer história a ser contada, onde os heróis geralmente são enaltecidos e/ou possuem super poderes, com os quais eles podiam derrotar os vilões do nazismo, no caso.

O Super Homem e o Capitão América são os maiores exemplos de personagens que foram usados (ou criados) para este fim, constantemente sendo vistos enfrentando vilões nazistas que punham em risco o estilo de vida americano. Também vale lembrar que o Zé Carioca foi criado aqui pela política de boa simpatia, para angariar novos países no grupo dos aliados (Ironicamente, não muito tempo depois as histórias em quadrinhos foram atacadas por conservadores que defendiam que estas desvirtuavam os jovens, como no livro Sedução dos Inocentes). Do mesmo modo que o Capitão América foi criado para ser o garoto propaganda do modo de vida americano durante a guerra para convencer os jovens a se alistar para a guerra, anos depois ele continuou sendo usado como ‘poster boy’ do capitalismo, que basicamente é o modo de vida americano 2.0.

O Super Homem também, embora ele tenha adquirido esta propriedade nos anos 40 ao invés de ter sido criado especificamente com este fim, como o Capitão América foi. Com o fim da guerra, os EUA tinham agora muito mais poder do que antes, mas uma nova ameaça ao seu estilo de vida aparecia: o comunismo. Mais uma vez o discurso ideológico aparecia na mídia, de forma muito mais agressiva desta vez. E assim personagens da Marvel e DC tinham agora um novo vilão. O medo generalizado de um holocausto nuclear foi tema de Batman CT e é claro Watchmen.

No entanto, estas duas não têm caráter ideológico, mas sim crítico sobre a Guerra Fria. Mas o comunismo continuava a ser um vilão bastante presente na TV, filmes, e é claro, quadrinhos, onde os heróis representavam tudo que havia de bom no capitalismo e os vilões eram os comunistas. Ao mesmo tempo, na Era de Prata os personagens começaram a ter muito mais traços psicológicos em suas personalidades, mostrando alguns defeitos para facilitar o público de se relacionar com eles.

Stan Lee foi o primeiro a criar personagens que não eram a epítome da perfeição, na Marvel. E assim, era muito mais fácil para as massas não perceberem as mensagens subliminares anticomunistas, que estavam em todo lugar (por exemplo, o Homem de Ferro é ligado à Guerra do Vietnã. Um americano que é praticamente um símbolo do capitalismo e industrialismo é ferido em um país comunista e consegue ressurgir das cinzas de seu ferimento mais forte do que antes, com uma armadura invencível. Não há propaganda melhor do que esta. Assim, os quadrinhos acabam mexendo com o emocional, por terem um viés fantasioso e terem como principal objetivo o entretenimento, e assim torna a propagando mais difícil de ser notada e assim criticada.

No entanto, a partir dos anos 70 os quadrinhos também eram usados não apenas como instrumento de adestramento das massas, mas também como fonte de questionamento, pela humanização dos personagens. Mais uma vez, o maior exemplo é Watchmen. Na Marvel, X-Men também surgiu, embora muito antes, como alegoria contra o apartheid e preconceito em geral, e até hoje os mutantes são uma grande metáfora para todas as minorias discriminadas que existem, sejam negros, homossexuais, mulheres, o que seja.

Até hoje os quadrinhos servem como um espelho da nossa sociedade, apontando as falhas quando as pessoas se recusam a ver e combater problemas gritantes. Hoje a propaganda ideológica não é tão agressiva quanto antes, até porque as teorias da comunicação evoluíram e está provado que as pessoas não engolem tudo tão facilmente assim. Mas os quadrinhos continuam sendo um reflexo da nossa sociedade atual, e o seu poder de influência é usado para o bem, em sua maior parte.

Cabe a nós exercitarmos o pensamento crítico e perceber quando estamos sendo manipulados, seja pela TV ou por qualquer outra mídia de massa, e gastarmos um minuto que seja para questionar como, por que e por quem agimos.

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